terça-feira, 23 de janeiro de 2018

21/365 - Aprender o Modelo Adequado



21/365

               Se você precisa de laranjas para fazer um bolo de laranja, não tente ir ao mercado comprar maças para a mesma finalidade; não tenha a mínima ilusão de que você poderá fazer um bolo de laranja com outra fruta. Não é sobre ficar bom ou ruim, é sobre a finalidade. Um bolo de laranja é feito com laranjas, um bolo de maça com maças. Sendo ainda mais específico, A é A, e B é B; B não é A, nem A é B.
               Certo, mas você não veio aqui para ler receitas de bolo de laranja, então vou explicar a entrelinha do ponto principal deste texto. Retomando as ideias das outras postagens (de forma concisa), quando temos que enfrentar um desafio, uma dificuldade imposta pela vida de forma abrupta, não adianta tentarmos evitar aquele desafio e enfrentar outro.
               Aprendemos na escola diversos modelos de resolução de problemas, e tendemos a nos apegar a eles pois é a forma que aprendemos para resolver nossas dificuldades. Tomando como exemplo a matéria de Física, aprendemos um modelo sobre objetos se movimentando, outro sobre objetos oscilando, objetos caindo, etc e etc... Então ao nos depararmos com um problema novo, tentamos aplicar este novo problema no modelo que já conhecemos bem e sabemos como resolver sem muitas dificuldades. Então mesmo quando algo novo aparece, temos um modelo antigo que podemos confiar para resolve-lo. Fazemos a mesma coisa com as dificuldades da vida, tentamos encaixar esse novo problema no conjunto de experiências que já tivemos, e comparamos e encaixamos naquilo que já conhecemos. Usamos do nosso conhecimento passado como uma ferramenta para resolução de novos problemas, o que é excelente quando feito de forma correta, e péssimo quando feito de forma errada.
               As vezes a vida nos joga uma dificuldade que devemos sentir completamente no seu limite, para que possamos atingir um novo limite. Ao sentirmos a dor de uma perda por exemplo, nos sentimos tão fracos e impotentes que ficamos de mãos atadas. Já fizemos tudo que podíamos fazer, e agora o que resta é aceitar a dor por completo e vivencia-la o máximo que podemos, não tentando evitar, nem tentando fingir que está tudo bem. Aproveitar o momento de luto para podermos atingir um novo limite de tolerância dessa tristeza, e assim seguirmos em frente como pessoas mais fortes. Esse seria fazer o bolo de laranja com as laranjas.
               Em um fim de relacionamento, é comum as pessoas trocarem os sentimentos por outros que elas possam gerenciar de uma melhor forma. De modo geral, homens tendem a trocar toda a tristeza e angustia por raiva, e as mulheres tendem a trocar todas as boas lembranças em nada, tentando fingir (após o período de tristeza e questionamento) que o antigo companheiro nunca existiu e que nunca fizera nada de bom na relação. Isso é querer fazer um bolo de laranja com maças. É trocar a experiência que deveria ser sentida no seu limite, para um crescimento pessoal, para algo mais tangível e acessível, que a própria racionalidade consegue compreender e processar de forma mais fácil. Não tenha a ilusão de que você será mais apto depois que toda a poeira baixar, usar isso como ferramenta é como uma muleta, assim como ir para o bar beber, ou tentar encontrar outra pessoa para substituir; essas muletas são como remédios inibidores da dor. Eles fazem com que você esqueça do problema, da dor, por certo tempo, mas o efeito continua, e ao passar o efeito analgésico você vai sentir a dor da mesma forma, algumas vezes até pior, por ter tentado ignorar e evitar tal sentimento.
               Usar modelos antigos para resolver problemas novos é excelente, mas saber a hora de aprender novos modelos para resolver de uma forma diferente alguns problemas é tão importante quanto. Querer passar a vida usando uma chave de fenda para fazer tudo numa casa é até possível. Mas usar um martelo para pregar um prego na parede é muito mais efetivo do que usar a chave de fenda. O tempo e a energia gasta usando apenas um modelo de resolução de problema é muito grande quando comparado ao modelo adequado. Mas para isso você precisa aprender o outro modelo, e estar disposto a sentir o limite da dor em cada situação, assim estará expandindo sua própria capacidade e se tornando uma pessoa cada vez mais forte toda vez que se levanta de uma queda.

Alisson David Frangullys – 22/JAN/2018  22:05 GMT -5   ( Texto atrasado do dia 21 )

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