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Se você precisa de laranjas para
fazer um bolo de laranja, não tente ir ao mercado comprar maças para a mesma
finalidade; não tenha a mínima ilusão de que você poderá fazer um bolo de
laranja com outra fruta. Não é sobre ficar bom ou ruim, é sobre a finalidade.
Um bolo de laranja é feito com laranjas, um bolo de maça com maças. Sendo ainda
mais específico, A é A, e B é B; B não é A, nem A é B.
Certo, mas você não veio aqui
para ler receitas de bolo de laranja, então vou explicar a entrelinha do ponto
principal deste texto. Retomando as ideias das outras postagens (de forma concisa),
quando temos que enfrentar um desafio, uma dificuldade imposta pela vida de
forma abrupta, não adianta tentarmos evitar aquele desafio e enfrentar outro.
Aprendemos
na escola diversos modelos de resolução de problemas, e tendemos a nos apegar a
eles pois é a forma que aprendemos para resolver nossas dificuldades. Tomando
como exemplo a matéria de Física, aprendemos um modelo sobre objetos se
movimentando, outro sobre objetos oscilando, objetos caindo, etc e etc... Então
ao nos depararmos com um problema novo, tentamos aplicar este novo problema no
modelo que já conhecemos bem e sabemos como resolver sem muitas dificuldades.
Então mesmo quando algo novo aparece, temos um modelo antigo que podemos
confiar para resolve-lo. Fazemos a mesma coisa com as dificuldades da vida,
tentamos encaixar esse novo problema no conjunto de experiências que já
tivemos, e comparamos e encaixamos naquilo que já conhecemos. Usamos do nosso
conhecimento passado como uma ferramenta para resolução de novos problemas, o
que é excelente quando feito de forma correta, e péssimo quando feito de forma
errada.
As vezes a vida nos joga uma dificuldade
que devemos sentir completamente no seu limite, para que possamos atingir um
novo limite. Ao sentirmos a dor de uma perda por exemplo, nos sentimos tão
fracos e impotentes que ficamos de mãos atadas. Já fizemos tudo que podíamos fazer,
e agora o que resta é aceitar a dor por completo e vivencia-la o máximo que
podemos, não tentando evitar, nem tentando fingir que está tudo bem. Aproveitar
o momento de luto para podermos atingir um novo limite de tolerância dessa
tristeza, e assim seguirmos em frente como pessoas mais fortes. Esse seria
fazer o bolo de laranja com as laranjas.
Em um fim de relacionamento, é
comum as pessoas trocarem os sentimentos por outros que elas possam gerenciar de
uma melhor forma. De modo geral, homens tendem a trocar toda a tristeza e
angustia por raiva, e as mulheres tendem a trocar todas as boas lembranças em
nada, tentando fingir (após o período de tristeza e questionamento) que o
antigo companheiro nunca existiu e que nunca fizera nada de bom na relação.
Isso é querer fazer um bolo de laranja com maças. É trocar a experiência que
deveria ser sentida no seu limite, para um crescimento pessoal, para algo mais
tangível e acessível, que a própria racionalidade consegue compreender e
processar de forma mais fácil. Não tenha a ilusão de que você será mais apto
depois que toda a poeira baixar, usar isso como ferramenta é como uma muleta, assim
como ir para o bar beber, ou tentar encontrar outra pessoa para substituir;
essas muletas são como remédios inibidores da dor. Eles fazem com que você
esqueça do problema, da dor, por certo tempo, mas o efeito continua, e ao
passar o efeito analgésico você vai sentir a dor da mesma forma, algumas vezes
até pior, por ter tentado ignorar e evitar tal sentimento.
Usar modelos antigos para resolver
problemas novos é excelente, mas saber a hora de aprender novos modelos para
resolver de uma forma diferente alguns problemas é tão importante quanto.
Querer passar a vida usando uma chave de fenda para fazer tudo numa casa é até
possível. Mas usar um martelo para pregar um prego na parede é muito mais
efetivo do que usar a chave de fenda. O tempo e a energia gasta usando apenas
um modelo de resolução de problema é muito grande quando comparado ao modelo
adequado. Mas para isso você precisa aprender o outro modelo, e estar disposto
a sentir o limite da dor em cada situação, assim estará expandindo sua própria
capacidade e se tornando uma pessoa cada vez mais forte toda vez que se levanta
de uma queda.
Alisson
David Frangullys – 22/JAN/2018 22:05 GMT
-5 ( Texto atrasado do dia 21 )
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